quinta-feira, 31 de maio de 2012

Let off some steam, Bennet.



Ao nível da cachaporra e da masculinidade, os cinematográficos anos Reagan já adquiriram belos contornos vintage. Melhor ainda: não havia pretensão nenhuma em vender gato por lebre, nem de  empacotar "temas" como refugo para delírios "tecnológicos", nem indistintos exercícios saudosistas. Portanto, uma perna do lombo de cada Joseph Zito, Mark L. Lester, Albert Pyun, Menahem Golan, ou Mark Di Salle vale bem mais do que meia dúzia de toneladas "sofisticadas" de cada Wachowski, do Nolan ou do ainda pior Abrams. Podem consultar mais Alyssa Milano aqui.


E, no entanto, prefiro estar a viver no segundo mundo do que experimentar, uma hora que seja, o primeiro.

A não ser que nesse primeiro mundo eu faça parte da hierarquia de poder, daí resultando grandes vantagens para a minha pessoa ao nível das comodidades vestuárias, culinárias e culturais, ao mesmo tempo que nego tais prazeres demoníacos ao povão, mantendo a todo o custo a pureza ideológica nos seus crânios, utilizando para tal objectivo, se necessário, a identificação de um inimigo, o que irá aguçar ainda mais a pureza ideológica no povão, nem mais nem menos o que faz muito filha da puta "revolucionário" por esse mundo fora, uns quase a bater a bota e outros ainda bem saudáveis. Então sim, neste enquadramento, eu prefiro o primeiro mundo.

Embora haja uma terceira hipótese: estar a viver no primeiro mundo e não o saber.

E uma quarta, porque não: o primeiro e o segundo mundo são uma e a mesma coisa.

Golo do Rivaldo, no Espn Classics.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Petzold, o homem que muito gosta de filmar carros e episódios dançarinos.



...em Gespenster e Jerichow encontram-se dois dos mais prazeirosos momentos de dança do cinema recente. Puro abandono. No segundo caso, com o extra de um bom pedaço de chouriço. Ou pareceu-me.

onde se dá conta de tops e de outros ridículos sucessos.

De dez em dez anos, a Sight and Sound pergunta a um milhão de pessoas ligadas aos filmes quais são os seus dez filmes preferidos de todo o sempre. Depois, salvo erro, atribui pontos por cada filme votado, e estabelece a lista final dos filmes mais pontuados. A última vez que isso sucedeu foi em 2002, por isso deve estar para breve nova ronda pela burguesia cinéfila. Também decidi fazer a minha lista de dez filmes preferidos de todo o sempre, mas não sem antes perguntar ao Rosenbaum se a podia efectuar, ao que ele anuiu, desde que desse com um pau na cabeça do Miguel Relvas e/ou fizesse um fellatio ao Diogo Dória. Não encontrei pau nenhum. E agora recuemos cinco anos...

...quando não havia crise financeira, os portugueses da Grécia só conheciam o Charisteas e o FMI era uma palavra numa canção do camarada José Mário Branco. Pois foi exactamente nessa altura que me pediram para eu "elaborar" uma lista dos meus dez filmes preferidos desde a invasão dos hunos. Passado este tempo todo, a maior parte da lista mantém-se inalterável, com as excepções que eu já de seguida irei nomear, não sem antes ir comer um chicken burguer do Pingo Doce, com mostarda e uma Cergal a acompanhar. Já volto.

Interlúdio musical: sem dúvida.

...quando se é pobre, merda é o que se come. Bom, vamos lá ao coiso. Ora, que raio faz ali o Triumph des Willens? Não é que eu não goste muitíssimo do filme, tal como o Olympia, ou a Luz Azul, porque gosto muitíssimo, e, sobretudo, é um bom tópico cinematográfico para uma saudável discussão à paulada com um esquerdalho (pode ser junto ao Bar Americano). Mas não está, neste momento, no meu topo de prioridades preferenciais. O Playtime, sendo óptimo, nem sequer é o meu favorito do frére Jacques, estando até atrás do discreto Traffic; borda fora também. O M, do monóculo, segue a mesma cartilha anterior; se eu fizesse um top ten dos Langs, deveria para aí ficar em quinto ou sexto, atrás, inclusive, dos filmes "indianos". Que sa foda. O resto está de pedra e cal, mesmo o Raging Bull, tão puído de sucessivas visões que há dias o revi um bocadinho e já não senti nada. Agora os filmes substitutos:

-They Live!: óbvio.

-Snake Eyes: não só o meu preferido do Senhor Esteja Convosco, como o meu mais sincero prazer dos anos noventa. E a Carla Gugino está com umas mamas tão boas.

-La Jetée: esta genialidade provocou impressão tão favorável, que só a vi duas vezes. Não a verei até não se dissiparem as doces memórias de aquando da sua primeira visão.

Acrescento um aos dez filmes, sendo ele os Ambersons, ainda que todo estropiado. A narração do Orson, sobretudo no momento em que o Cotten desce ao abismo, deverá estar ao nível de uma punheta de mamas da Carla Gugino no Snake Eyes.

E assim vão estas práticas, ás 18:46 de diz 30 de Maio do ano 2012:

Close-Up
They Live!
Recordacões da Casa Amarela
The Night of the Hunter
La Jetée
Raging Bull
Hana Bi
Psycho
Great Dictator
Snake Eyes

e ainda

os Ambersons.



sábado, 19 de maio de 2012

O ator e realizador norte-americano Sean Penn apelou hoje, durante uma cerimónia em Cannes, às mulheres presentes para fazerem greve de sexo em solidariedade com todas as mulheres no Haiti.

"Quero que todas as mulheres, em solidariedade com as mulheres do Haiti, que sofreram mais do que qualquer mulher no mundo, digam aos homens: hoje não vou ter sexo contigo a não ser que faças um donativo" para apoiar aquele país, disse o ator. 

 E aqueles homens que estão desempregados e sem qualquer fonte de rendimento, Sean? Têm de ir pedir dinheiro aos papás para o "donativo"? E se estes perguntarem a razão de tão súbito "empréstimo", eles vão ter de explicar que "só assim voltarei a ter sexo com a esposa"? E se não houver papás nem ninguém? Só voltarão ás delícias quando arranjarem emprego? E aqueles que, mesmo tendo emprego mas recebendo misérias, terão, porventura, entre optar por comida para os filhos esfomeados ou para o "donativo"? E quando é que voltas a trabalhar com o De Palma?

sexta-feira, 18 de maio de 2012


balada da praia dos cães.


A praia frequentada por este humilde servidor de Deus está infestada de cães. Pensava eu que os passeios caninos se desenrolavam apenas no Inverno, mas parece que não, parece que agora os donos, mesmo com o areal repleto, tratam de invadir o espaço de cada um com os seus animais. E deixam-nos à solta. E se ainda fossem cães de raça nobre, como pastores merkéis ou cães da Serra da Estrela ou labradores ou pittbulls ou coiso, mas não, estes são uma minoria muito minórica; o que prevalece são aqueles cãezinhos liliputianos*, que ladram e ladram e ladram, e que, devido às suas figuras ridiculas, tentam compensar as suas fraquezas com intimidações soezes aos seres muito humanos que passam por eles. Para gáudio dos donos, que mais parecem os verdadeiros servos dos cães. Se calhar estes cães adquiriram um poder como as máquinas do T2, ou então é o novo Planet of the Dogs, transformado em propriedade canina. Espero, antes do Verão acabar, mandar um pontapé num. Ou então mostro-lhe uma foto do Eugène Green acabado de acordar. Vodka de merda, esta. Alexandre Soares dos Santos, a mim não me enganas mais tu.

* estranho como aqueles mass murderers escolares nunca invocam, como influência grandiosa para as suas performances, a obra-prima de Jonathan Swift.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

diversos e saborosos níveis de mérito de:


ao nível das parafilias

a) cheira a minha velha e imunda roupa interior, diz o Magistrati, embrenhado em mil pensamentos. Sujidade e decadência por baixo da respeitabilidade das vestes, do luxo dos vestidos das senhoras contadoras de histórias para fomentar a imaginação. A podridão sabe sempre melhor quando alicerçada em vestuário elitista. É como os guilty pleasures cinematográficos: como podem ser guilty, se tudo o que uma pessoa vê é merda? Viva o bom gosto dos cinemas e das roupas: só assim poderemos deliciosamente desfrutar de todo o cocó.

b) destruição da beleza da juventude. São novos, são bonitos? Tomem lá disto.E ainda melhor se os torturadores tresandarem a fealdade. Contraste contaminante de largas tusas e delírios sexuais. Corromper até ao infinito (se é que este existe, outra vez o magistrati) os dias de glória do ser humano. As carinhas larocas. Manja la merda, vocifera o Duque, para uma menina tão bonitinha e a chorar. Notável.

c) ritualização dos fetiches e do abuso de poder. A humilhação adquire maior satisfação se for enquadrada em festas grand gignol, com os meninos sentados a ouvirem as senhoras contar histórias comoventes de quando tinham sete anos e levavam com esporra aristocrática nas faces infantis. Com som de piano, alta cultura. E sala espaçosa, alta arquitectura. 

d) gostosas citações culturais, de Baudelaire a Santo Agostinho. Carmine Burana.  Baudelaire com banquete de merda, Carmine Burana com festival de sangue. Choremos.

e) oralidades teatrais das senhoras para incentivar a tusa. Mentirosas ou verdadeiras, as suas histórias têm sempre as ditas como protagonistas infantis a serem abusadas por senhores respeitabilíssimos e nobiliárquicos, numa centrifugadora apetitosa de cagalhões na boca, esporra na cara, vários tipos de diarreia, carne esfolada, mijo ás litradas, Alexandre Soares dos Santos. Uma vez mais, a dicotomia alta cultura vs altas merdas enebria os nossos quatro heróis. 

ao nível dos cinemas

a) se uma coisa parece merda, cheira a merda e sabe a merda, então só pode ser merda. E há que mostrar a merda (aqui merda não se refere ao que sai do nosso cú, mas a toda a insanidade em Saló) dê por onde der. Anti-elipse, anti- subtileza, obrigatoriamente visceral. Isto poderia ser um problema, se...

b)... Pasolini ficasse com ataques de histerismos. Mas não ficou. Nunca há devaneios sensacionalistas nem ampliação (que seria redundante) das maravilhas escatológicas. Não há raposas mortas de fomica nem caralhos a foderem em câmara lenta.

c) comédias. Do mais alto grau. Estes quatro pândegos proporcionam bons momentos de humor, com destaque para el presidente, um monstro dos comentários rejubilatórios. O actor que faz de Pinto...de presidente , segundo Pier Paolo, nunca tinha falado num filme, por isso decidiram utilizar a voz do Marco Bellocchio. 

d) no judgement. no judgement. no judgement. Espantoso, se considerarmos estar a falar de um filme de um comunista católico sobre fascistas pagãos.

ao nível das comidas

a) salada russa de cagalhões caseiros.
b) pudim (flan, pareceu-me) com pregos , também caseiro.
c) carne guisada para os cães e cadelas.

OBRA-PRIMA ABSOLUTA.

sábado, 12 de maio de 2012

Cinemateca Júnior

Vou pela primeira vez à Cinemateca Júnior, compro o bilhete e ainda faltam 15 minutos para o início da sessão, composta por dois Chaplins. Nesses 15 minutos, dou conta de que há mesmo crianças que frequentam aquele espaço na companhia dos seus familiares mais velhos, facto que me deixa preocupado quanto ao eventual ruído, sempre um obstáculo à magia da tela. Entro na sala, crianças, ruído. Começa o Chaplin nas trincheiras e há silêncio. Depois vem o gag de Chaplin na formação militar, o primeiro de muitos e que leva logo os putos ao rubro, e, desde esse momento, há silêncio nas partes sem gags e risadas, que vêm das entranhas, quando há gags, e que nem deixam os putos respirar. É bonito de assistir. Espero que a senhora de Olhão ache este post fofinho.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Recebemos um mail indignado de uma senhora de Olhão, e que aqui transcrevemos:

"Reparo, com alguma tristeza, que vocês (que não devem ter mais do que quinze anos...juntos), e ao contrário de bloggers respeitáveis de blogs não menos respeitáveis, nunca fazem uma menção de obituário às grandes personalidades cinematográficas que desaparecem. Uma aleivosia, é o que digo".

Lucia Lurdes Lucinda Ludmila, Olhão.

Senhora, neste momento em que vos respondo, estou a ouvir o Before the Bullfight, do David Sylvian, e que é capaz de ser a melhor canção de sempre. Quanto à sua perplexidade, é fácil de clarificar: neste blogo somos católicos e neoplatónicos, daí acharmos que quem entrega a alma ao Criador está em muito melhor posição do que nós, que nos andamos aqui a arrastar em agrilhões insustentáveis. Quanto muito, cometemos o pecado da inveja em relação a tais almas fidepunhetas. Mas, para si, vamos abrir uma excepção e falarmos de um obituário recente. E que começa assim...

...na primeira visão de Recordações da Casa Amarela eu não sabia quem era o César Monteiro (exacto, esse, que "brincou cos mês impostos, o gatune!"); nas segundas, terceiras, quartas, e quintas visões eu já sabia quem era o César Monteiro, mas nunca tinha ouvido falar no Fernando Lopes. Sensivelmente a partir da sexta e até à nona observância, já sabia que havia um Fernando Lopes realizador do cinema, mas desconhecia-lhe os condimentos físicos e a obra; para aí a partir da décima, e até à décima quarta visão, descobri a cara do Lopes e algumas das suas películas. Mas foi só, salvo erro, pela décima-sexta visão da obra-prima, que me apercebi que ele entra na dita, a jogar snooker no meio da populaça. E assim se conclui a história de hoje.

terça-feira, 8 de maio de 2012

meus senhores e minhas senhoras, eis o "cinema adulto norte-americano".


aquele gajo no canto inferior esquerdo não é o Will Oldham? E que merda de blogger novo vem a ser este?

Martha Marcy Marlene Mary Madalena Marisa Manuela Margarida continua a senda deste novo movimento "indie" do cinema americano, feito de muitas árvores, muitos olhares conduídos e misteriosos, muita "aspereza", muitos planos fixos ou ligeiríssimos travellings, muita atenção aos "postos de lado pela sociedade", sendo que cada filme da quadrilha parece que foi feito no mesmo laboratório do anterior, tão distinguíveis como duas irmãs gémeas completamente nuas a mamarem num negão (vide site Slutload). Por falar em gémeas, a Maria Madalena deste filme é a mais nova das irmãs  Olsen, sendo as outras gémeas, e que tem o prazer de ser comida neste filme pelo John Hawkes, que também já estava rodeado de uma boazona no Winter's Bone, e eis mais outra característica desta nova vaga, colocar giraças do jet set americano em papéis "perturbadores", como castigando-as pelas suas vidas ociosas e sem pinga de solidariedade pelo proletariado (também relembramos a Michelle Williams no Wendy e Lucy, que mesmo estando toda desgrenhada e cheia de pulgas, estava muito mais excitante que a filha do Gainsborough vestida a ouro). Bom, esta obra inicial de um gajo qualquer, saída da padaria de Sundance, nem opta pelo minimalismo gostoso (dinamitado por uma montagem paralela plena de "significado"), nem se aventura por caminhos mais elaborados de narrativa; meias tintas, é o que se quer. Mas não sejamos velhacos: há muita "interioridade", e abundante consciência do que é "cinema sério" (metem-se meia dúzia de pardais a carregar fardos de palha e a cavar terra, e pronto, temos "pensamento virtuoso"). Um qualquer okupa do BE não faria melhor.