sexta-feira, 1 de novembro de 2013

só dá Argento (2 de não sei quantos)


E surgia a glória do reconhecimento internacional. Ano de graça, 1977. Culpa: Suspiria. Ferramentas do pecado: Jessica Harper, acho que te amo; Technicolor como (literalmente) jamais se veria, já que o processo terminaria por aqui; um registo de câmara "mais rigoroso" e "controlado", se compararmos com muitos momentos de outros filmes do mestre; interpretações "de qualidade" (Joan Bennett!, saída das caves languianas com uma dicção intacta) e que raramente sucumbem aos saborosos "excessos" de outas personagens de Dario (embora tenhamos por aqui Alida Valli como um delírio de sorriso diabólico e andar militar à la aquele gajo português do Real Madrid). Suspiria é, sem dúvida, o filme de Argento mais dado ás convenções do "bom cinema" (embora, gostosamente, essas convenções venham todas abaixo nos últimos minutos de filme), não só do público como dos críticos de "cinema de qualidade". Felizmente que essa adesão não foi geral, já que há bastas críticas ao "argumento" ( essa coisa tão importante no cinema de Argento) e aos meros formalismos visuais do filme (que horror! formalismos! ainda por cima visuais!). Não percamos mais tempo e damos a palavra escrita a Martha Jones, professora jubilada na Universidade de Little Rock, Arkansas, e autora do ensaio mundialmente reconhecido, Argento: Broken Windows/ Broken Women:

Suspiria (como Phenomena, oito anos depois) inicia-se com a chegada de uma jovem americana ( Jessica Harper, muito bonita, com quem gostaríamos de dissertar abundantes temáticas vestidas apenas de ligas pretas e agarradas aos nossos ursinhos) a uma Europa que parece sempre um repositório de maldições e preocupações; não fossem as vestimentas e a linguagem das personagens, e diríamos estar em pleno período medieval, tal é a ausência de abundantes sinais externos de contemporaneidade. Colocamos duas questões: será Dario um romântico de uma Europa misteriosa, com as suas florestas negras, os seus cultos pagãos, as suas casas assombradas, os seus Poes? Ou será Dario um seu crítico, vendo este continente como um antro de corruptos e malfeitores, usando a alegoria do terror fílmico como grande ensaboadela nos poderes instalados? Não sabemos exactamente qual das duas estará certa, possivelmente as duas, possivelmente nenhuma. Mas vamos a coisas mais importantes: