domingo, 14 de junho de 2015

como esta gente não tem vergonha, e eu também não...

Gomes's latest also prefigures an allegorically over-determined predator: a crocodile. But it doesn't stalk, plot, or ensnare anything so much as it drifts, wide-eyed in a pool. Is the crocodile Gomes himself? Is it, as Mark Peranson suggested inCinema Scope, Portugal itself? Both seem likely, or at least plausible. The creature bears silent witness to the colonial history that constitutes the emotional heart of Tabu. Call it the croc's-eye-view of history.


Cinéfilo 1(C1): Revi ontem o Tabu, do Gomes. É cada vez mais insondável o significado semiótico daquele crocodilo. Que malandro!

Cinéfilo 2(C2): Se tu o dizes...
C1: Digo e volto a dizê-lo: aquele lagarto gigante está para além de uma mera representação dos valores coloniais, para além das esferas ultramarinas, e para além da sofisticação cinéfila do Gomes.
C2: Ó chefe, há tabaco?
C1: Estou mesmo em crer que o Eduardo Lourenço se inspirou neste crocodilo para o seu Labirinto da Saudade
C2: Isso é impossível.
C1: Impossível não será ver no jacaré os resquícios dos escritos do Professor José Gil!
C2: Nem isqueiro tenho...
C1: Nunca me disseste o que significa aquele crocodilo...
C2: Nem digo. 
C1: Porquê?!?!
C2: Tenho medo. É demasiado chocante.
C1: Medo?? Não há medo entre cinéfilos apaixonados, filhos de cinematecas e culturgestes, navegantes do saber fílmico, leitores de Robin Wood. Não tenhas medo e diz.
C2: Não digo, não digo e não digo! 
C1: DIZ! EXIJO! Preciso de levar um banho da tua espuma epistemológica. Além do mais, faço colecções de cromos de "noções do crocodilo do Tabu". Tenho uns vinte Peransons para troca, mas faltam-me uns três Delormes e uma raríssima noção de um crítico nativo das Seychelles, que viu no bicho uma clara manifestação da sorte que se aproximava em questões de pesca. E falta a tua, claro!
C2: Pronto, eu digo. Mas primeiro afasta-te. Mais...mais...isso aí...não, mais!
C1: (a gritar) Porque é que me estás a mandar para tão longe?
C2: (a gritar) É para eu ter alguma vantagem quando começar a fugir!
C1: (a rir e a falar de si para si) ai que maluca! (a gritar) Vá, diz! Nada do que me poderás dizer me colocará em trabalhos! Como diria o meu avozinho, o saber não ocupa lugar!!
C2: (a gritar) Pronto, 'tá bem! Aqui vai...depois diz que eu não te avisei! (ajeitando a gravata...inspirando...expirando...) O crocodilo no Tabu ...é....é...
C1: (a gritar, com uma mão no ouvido) Sim??!?
C2: O crocodilo no Tabu é...é...é...UM CROCODILO!
C1: (a começar a correr): FILHO DA PUTA!!!! Tu não me escapas! Não haverá misericórdia!! Estais fodido!! Não percas tempo a correr, salafrário!!
C2: (a fugir) Não, não! O crocodilo no Tabu é a representação do selvagem lucro do capitalismo! É a ida do Jesus pó Sporting! É uma referência trágica à bulímía! É o cu do António Guerreiro! É um pastel de nata!
C1: Filho da puta!!! Tarde demais! Já te revelaste! Os teus dias estão no fim...
C2:... Um símbolo da alheira de Mirandela, um sinal da falência moral nas tribos amazónicas...!