quinta-feira, 3 de março de 2016

Deus aterra em Lisboa.


Como a minha memória para cousas absolutamente inúteis é proporcional ao esquecimento das coisas verdadeiramente importantes, é com gozo que recordo aqueles tempos entre o Showgirls e o Black Book em que a obra do homem aí de cima foi, por esta terreola (alastrada ao restante planeta, suponho), enxovalhada e classificada algures entre radioactividade cancerígena e pior do que comer merda. E só não recuo mais no tempo, porque nessas épocas ainda só lia os livros da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada e o Calvin e Hobbes na última página do Público, mas desconfio que tenha sido igual ou pior. Mas agora, embora longe do unanimismo (goody), já podemos dizer ou escrever, enquanto fumamos com distanciamento, "Showgirls? Não houve outra forma mais sublime de filmar a América nos anos noventa" "Mas dizes isso porque é o que sentiste a ver o filme ou porque leste o Rivette?" "Cala-te! Injúrias soezes! Não me deixo influenciar! Tolo! Até já estou a fumar sem pose por tua causa! ". Coisa igual ou parecida aconteceu com o Michael Mann, que antes do Miami Vice era um mero formalista insípido e telenovelesco, para hoje em dia cada um dos seus filmes ser aguardado com a mesma devoção com que o rebanho espera pelo Messias. Bem vindo à terra da respeitabilidade, Paul. Agora vai lá filmar cus e tetas pá gente; se vier com o invólucro da "sátira", melhor ainda.